Foto:josé alfredo almeida |
Há lugares neste Douro emblemático que,
vendo o visitante de saída, lhe dizem com anfitriã bonomia.: - Volte sempre! Até
à próxima! Cá o esperamos para novas descobertas! Galafura é um deles. Primeiro
a aldeia, a abrir os braços hospitaleiros logo à entrada. Uma religiosidade tão
intrínseca ao espírito do povo, marca, iconicamente, o início da escalada até
um miradouro de todos os deslumbramentos, teimoso na veleidade de levar a palma
a concorrentes de santos e de vistas.
Aí situou Miguel Torga a acção de um dos
seus mais dramáticos contos – “Maria Lionça” (Contos da Montanha), arquétipo de mulher rural com tanta força de alma
como de corpo. Pois não carregou ela o filho morto, do comboio até à povoação,
para aí o devolver a chão de raízes de ambos?
Galafura.
Uma subida íngreme, em caminho de traçado sinuoso, serpenteado, alerta para a sinalética
sem tirar o fôlego a motores todo o terreno, resignados a pequenas velocidades,
não vão sair-lhes os bofes pela boca…
Olhando para a direita, ao subir, e para a
esquerda, ao descer, os condutores embevecidos vão farejando bermas
compreensivas para encostagens exigidas pela gula de degustar a paisagem,
indescritível com palavras, por não terem elas cor, nem cheiro, nem som. Logo
se gera empatia entre visitante e visitado, depressa transformada em flirt
romântico, alheio a olhos bisbilhoteiros de câmaras fotográficas.
S. Leonardo de Galafura, o taumaturgo, com
direito a habitação sem mofo nem morcegos, mas condenado a dormir ao relento,
não se satisfaz com olhares de olhar. Ele, e os restantes elementos do seu
reduto sagrado, de que é o centro nevrálgico, entendem que são dignos de ser
vistos com olhos de ver. Como é o caso do malogrado marco geodésico, amparo de
traseiros de gentes em contemplação babada de rio e margens, a quem não ocorre
interrogarem-se sobre a utilidade daquele cone granítico com cara manchada de
velha macilenta, tutelado por oliveira milenar. É pena. Ficariam a saber
encontrarem-se a 640 metros de altitude, informação calada, idêntica às que são
debitadas por pilotos de aviões.
Esta imagem de rochedo escultural exemplifica
os dotes artísticos da mãe natureza. Muitas lições de arte oferece ela! Pena que muitos dos que são chamados a vê-la se limitem a olhá-la. É a mesma
coisa, sussurrarão os leitores melindrados. Não para mim. Para um tal de
Hamlet, “ser ou não ser, eis a questão”. Para mim, e neste contexto, a questão
é olhar ou ver…
M.Hercília Agarez
Vila Real, 25 de Março de 2019
..olhar ver ..sentir !!!
ResponderEliminarGuardar ...porque não ???
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