"Caro Dino,
No outro dia disseste que nas fotografias se vê a minha alma: e
agora aqui as tens. Porque o único irmão da minha alma és tu e todas as
coisas que me têm sido mais caras quero deixar-tas em herança, agora que
a minha alma se encaminha por uma estrada onde é preciso que se
embacie, se mascare, se ampute. Aqui encontrarás tantas coisas que já
conheces: detrás de cada uma escrevi um título ou palavras com pouco
sentido, que no entanto compreenderás. Conserva-as para recordação
minha, para recordação do nosso encontro, que tem sido bom e belo e me
deu tanta alegria no meio da dor. Caro, caro Dino, que tu ao menos
possas moldar a tua vida como eu sonhava que fosse a minha: toda nutrida
de dentro e sem escravidão. Em cada uma destas imagens vês repetido
este desejo, esta certeza.
Abraço-te.
Antonia."
Antonia Pozzi in Morte de Uma Estação
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