Foto: Noel de Magalhães-arquivo do Museu do Douro |
Surgiu a correr seguida por outras crianças, subiu para a pedra que servia de degrau e bebeu água no chafariz.
A trança larga despenteada, uma das meias descaída. Pelo chão, a arrastar mochila.
Limpou a boca às costas da mão, os olhos grandes, sonhadores, de anjo.
Talvez por isso, a mochila a arrastar também de sonhos que não cabendo já nela, se
foram acomodando nos livros, nos lápis de cor, no lanche que levava a dobrar para
oferecer ao menino mais lindo da escola. Via pelas roupas dele que não era abastado,
mas era o mais lindo porque falava com ela de pássaros, de formigas e de árvores e
também do futuro do que queria ser quando crescesse. E ouvia-a.
De olhar atento, como se fosse importante o que ela tinha a dizer. Entrou no coreto fez de princesa, representou. Fez do coreto um palácio. Depois, dançou de braços abertos.
A rodar…
As árvores gigantes, o sol entre as ramagens a bater nos seus olhos. A rir, a rirem.
Num banco ao fundo, namorados enlaçados, surdos para a vida fora deles.
Agora é só silêncio.
Olho este jardim que lentamente se enche de sombras.
Os pinheiros, os bancos pintados de verde, a relva onde dois rapazes jogam à bola.
A menina passa por mim pela mão da mãe.
Tem um ar ensonado e não olha para mim.
Aqui não há nenhum coreto.
A menina passa por mim pela mão da mãe.
Tem um ar ensonado e não olha para mim.
Aqui não há nenhum coreto.
Nem namorados.
Lá atrás, num tempo de infância, era esse o cenário no jardim do Largo dos Aviadores da Régua.
Ou então, fui eu que sonhei.
Ana de Melo
Lá atrás, num tempo de infância, era esse o cenário no jardim do Largo dos Aviadores da Régua.
Ou então, fui eu que sonhei.
Ana de Melo
Ooh Sonho tão REAL..
ResponderEliminarOoh Princesa ,,sorridente ..
e encantada ..
è tão "linda " esta história ..!!
Ana de Melo ..a encantar,me ...!!
Num tempo de infância, a imaginação pode ter asas.
ResponderEliminarA ternura deste texto é enorme, e faz bem à alma.