Sempre houve nome para todas as coisas visíveis. Algumas dessas coisas deixaram, hoje, o nosso convívio, contentando-se com a presença muda em dicionários que as não repudiaram por inúteis. E algumas, mais sortudas, vão dando um ar da sua graça por aí fora, onde alguém, preservador de passados, lhes dá vida estática mas pitoresca, em museus etnográficos.
Sabem o que eram e
para que serviam os caixotos? Vamos procurar num desses museus de palavras não
preconceituoso quanto a regionalismos: "joelheira de madeira que as
mulheres usam nos lavadouros e quando limpam soalhos" (Dic. Porto Editora).
Agora, veja as
diferenças. Dois caixotos iguais, duas "lavadeiras" diferentes. A
criada e a menina. Diferentes na roupa e no penteado, mais diferentes ainda na
atitude. Se a primeira executa, sem direito a réplica, uma das muitas tarefas
que lhe são atribuídas, diariamente, pelo nariz empinado da patroa, a segunda
parece brincar a coisas sérias. Com o calor que o vestido indicia, deve
saber-lhe bem a frescura das águas do tanque. Não se lhe vê sabão por perto e o
gesto de pegar na peça de roupa denuncia inabilidade. Mas ficaram ambas bem na
fotografia. Talvez nunca chegue a vê-la, a rapariga. A da menina, essa, terá
lugar garantido no álbum da família bem apelidada como uma façanha de mãos mimosas, fadadas para
teclas e bordados, democraticamente próximas das outras, gretadas, ásperas de
tanto fazer.
M. Hercília Agarez, 1 de Março de 2017
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