Foto:josé alfredo almeida |
Quantas vozes guardei dentro de mim...
Quantas de mim, eu não conheço?
Era uma vez, um
rei que amava muito a sua rainha. Ela encontrava-se doente da alma. Sofria de
nostalgia.
O rei era mouro
e a rainha de um país do Norte, onde costumava nevar e como quase toda a gente
sabe, nos lugares onde nunca cai neve, sonha-se menos.
E é o sonho que
dá alento à vida.
Nada parecia
resultar para alegrar a rainha.
O sábio
conselheiro do rei, depois de várias tentativas em vão, lembrou-se que se
plantassem várias amendoeiras, dariam flores tão brancas que criariam a ilusão
de neve.
Um dia,
a rainha foi
surpreendida por um cenário de uma beleza que a deixou imensamente feliz.
Campos e planícies a perder de vista, alvos como a neve.
O sorriso
voltou novamente ao seu rosto.
Estava curada.
E foram felizes
para sempre.
A lenda das
amendoeiras, ensaiada com paciência e rigor, pelas minhas professoras do ciclo
preparatório.
(Recordo a Dra.
Marilia e a Dra. Armanda, também o professor de música, Sr. José Armindo). Para
ser representada no palco do Cine-Teatro da Régua.
Era o início da
noite.
Depois das três
pancadas de Molière e do subir do pano,
a peça saiu do
papel, para aquele palco.
Nos cenários,
nas vozes, nas canções.
Como um bailado
ou um voo de pássaros, em uníssono, ao sabor das deixas, demos vida à lenda e
tornámo-la real.
Depois os
aplausos, o fim.
O cair do pano.
As luzes que se
apagam.
Para trás (para
mim), ficou o Cine-Teatro Avenida de Peso da Régua.
Essa noite,
relembro-a como mágica.
Hoje, como
adulta vejo esta lenda com outros olhos.
Fala de guerra
e poder.
E de amor, como
salvação.
Uma história
real e sempre actual.
Ana de Melo