Foto: josé alfredo almeida |
Foi generosa
connosco, a natureza. Na Primavera somos sorrisos verdes e alinhados. Tímidos
mas confiantes na pujança de um Verão em que os nossos frutos medram a olhos
vistos, como crianças bem aleitadas. Esquecemos, depressa, a negrura
esquelética do Inverno. Consolam-nos as oliveiras, elas sim, sempre com o
sorriso rasgado das suas folhas, lâminas de prata.
Quando o estio se
aproxima do adeus, somos o chamariz de bandos de vindimadores afanados.
Assistimos então, impotentes e resignadas, à amputação inevitável dos nossos
tesouros mal precatados, sujeitos a investidas de intempéries invejosas.
Perdemos uma
riqueza, ganhamos outra. As vinhas têm
mais encanto na hora da despedida.
O Outono esparge sobre nós todas as cores do arco-íris, promove-nos a rainhas
da paisagem, coroadas de ametistas, de safiras, de esmeraldas, de rubis, de topázios.
Quando o sol nos abençoa, torna-nos ainda mais aguarelas. Sentimo-nos vingadas.
Como escreveu Torga, os socalcos que nos seguram as raízes são "varandins
que nenhum palácio aveza". E, pouco depois de os nossos cachos descerem
aos locais da tortura, ainda segundo o
poeta, "há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo."
12 de Outubro de 2015
M. Hercília Agarez
O Outono....num poema ....
ResponderEliminarou em prosa ...
Uma "rapsódia " de palavras ...mais ,ou,.... menos "requintadas" ....e "vestidas " , com a mais "belas cores..
Gostei.....muito..