Foto: josé alfredo almeida |
Régua, 29 de Julho de 2012
Ao meu amigo M. Nogueira Borges, lembrando-me que só pode estar lá em cima a dizer-me:"CARAMBA!!! ISTO É MESMO LINDO !!!!!!!!!!!!!!!!!!"
Acabei de acompanhar com o meu colega Dr. Martins de Freitas, ao lado
da família e de alguns seus velhos amigos, o nosso amigo M. Nogueira Borges
até à sua última morada, o jazigo de família (no talhão nº 128) no
cemitério de Cambres, que fica no alto de um monte, entre socalcos de
vinhedos e de onde se vislumbra, ao fundo, uma nesga do rio Douro, a
correr na sua serenidade e no silêncio em volta do velho casario da marginal da Régua.
Lá ficou sepultado o nosso amigo, o homem puro e genuíno, altruísta
e bondoso, que é um daqueles que faz muita falta cá neste nosso Mundo para ser menos materialista e mais humanista.
Para o receber
neste regresso às origens, a terra- mãe que o viu nascer, Douro é imensamente azul riscado pelo voo das andorinhas ficou com um céu de negrume sombrio, uma forte
trovoada fez-se ouvir no céu deixou cair a chuva , como se fossem lágrimas de
despida de quem não podia estar presente naquele seu Último Adeus.
No meio da tempestade de verão que se cresceu dentro de
nós, o Douro surpreendeu com este cenário lúgubre o nosso amigo. Mas, este seria, por certo, reencontro final que o escritor de lugares e
emoções, o cronista social e de valores éticos imutáveis e o poeta que
acreditava nas utopias sempre terá desejado para se despedir de nós e dos seus amigos do coração.
O nosso amigo está agora na Eternidade, mas ficou no seu
pátrio Douro e ainda mais perto dos homens
simples e generosos, dos pequenos lavradores das terras e vinhas de Penaguião e muitos heróis anónimos que labutam de sol a sol para sobreviver a uma amarga existência em nome de um vinho famoso que garante riquezas e fortunas só aos mais fortes.
O Douro que ele
mais amou e retratou nos seus livros e nos inúmeros escritos
perdidos pelos jornais não perdeu a sua voz, ele que bem soube denunciar as suas
angústias e as misérias humanas, mas também os sonhos dos seus homens que acreditam numa vida mais solidária.
Cheguei do alto do monte de Cambres com o coração mais triste.
Lá
ficaram as minhas flores vermelhas à chuva perto da placa com uma sua
fotografia, com um belo sorriso, assinalada com os versos do poema de despedida "Última Vontade" e que eram os com que ele queria que fosse lembrado....
Voltei a relê-los com se fossem uma oração sagrada:
Nasceu sem saber porquê,
Viveu sem que o entendessem.
Morreu sabendo para quê:
Para que na ausência o lembrassem
Lá ficaram as minhas recordações de todos momentos únicos
que vivi com ele, mas não me faltarão oportunidades para subir ao monte de Cambres e para conversarmos, com mais vagar, de outros lagares de
memórias e do seu próximo livro que deixou manuscrito e pronto para alguém o publicar.
Cheguei à Régua e o céu continuava coberto de nuvens negras e aparecia uma lua cheia a dar o seu brilho num horizonte que se espelhava nas águas tranquilas do rio, mas o meu coração estava mais pesado com a amizade do M. Nogueira Borges, um amigo Eterno.
José Alfredo Almeida
José Alfredo Almeida
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