sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Céu (não) pode esperar


Foto: josé alfredo almeida


Régua, 29 de Julho de 2012

Ao meu amigo M. Nogueira Borges, lembrando-me que  só pode estar lá em cima a dizer-me:"CARAMBA!!!  ISTO É MESMO LINDO !!!!!!!!!!!!!!!!!!"

Acabei de acompanhar  com o meu colega  Dr. Martins de Freitas, ao lado da família e de  alguns seus velhos  amigos, o  nosso amigo M. Nogueira Borges até à  sua última morada, o  jazigo de família (no talhão nº  128)  no cemitério de Cambres,  que fica no alto de um  monte, entre socalcos de vinhedos e de onde se  vislumbra, ao fundo,  uma nesga do rio Douro,  a correr na sua  serenidade e  no silêncio em  volta  do  velho casario da marginal da Régua.

Lá ficou sepultado  o nosso amigo, o homem puro e genuíno, altruísta e bondoso, que é um  daqueles que faz  muita falta  cá neste nosso Mundo para ser  menos materialista e mais humanista.

Para o receber neste regresso às origens,  a terra- mãe que o viu nascer,  Douro é  imensamente  azul riscado pelo voo das andorinhas   ficou com um céu  de negrume sombrio, uma forte  trovoada fez-se  ouvir no céu  deixou cair a chuva , como se fossem   lágrimas de despida de  quem não podia estar  presente naquele seu  Último Adeus.

No meio da tempestade de verão que se cresceu dentro de nós, o Douro surpreendeu com este cenário lúgubre    o nosso amigo.  Mas, este  seria, por certo,   reencontro final que o escritor de lugares e emoções,  o cronista social e de valores éticos  imutáveis e o poeta que acreditava nas utopias sempre terá desejado para se despedir de nós e dos seus amigos do coração.

O  nosso amigo  está  agora  na  Eternidade, mas ficou no  seu pátrio Douro e  ainda mais  perto dos homens simples e generosos, dos pequenos lavradores  das terras e vinhas  de Penaguião e muitos   heróis anónimos que labutam de sol a sol para sobreviver a uma amarga existência em nome de um vinho famoso que garante riquezas e fortunas só aos mais fortes.  

O Douro que ele mais amou  e retratou   nos seus livros e  nos inúmeros  escritos perdidos pelos jornais não perdeu  a sua voz, ele  que bem soube   denunciar  as suas angústias e as  misérias  humanas,  mas também  os  sonhos dos seus homens que acreditam numa vida mais solidária.

Cheguei  do alto do monte  de Cambres com o coração mais triste. 

Lá ficaram as minhas flores vermelhas  à chuva perto da placa com uma sua fotografia, com um belo sorriso, assinalada com os versos  do  poema  de despedida "Última Vontade" e  que eram os com que  ele  queria que fosse  lembrado.... Voltei a relê-los  com se fossem  uma oração sagrada:


Nasceu sem saber porquê, 
Viveu sem que o entendessem. 
Morreu sabendo para quê: 
Para que na ausência o lembrassem


Lá ficaram as minhas recordações de todos  momentos únicos  que vivi com ele, mas não me  faltarão oportunidades  para  subir  ao monte de  Cambres e para conversarmos,  com mais vagar, de outros lagares de memórias e  do seu próximo livro que  deixou manuscrito e pronto para alguém o publicar.

Cheguei à Régua e  o céu continuava coberto de nuvens negras e aparecia  uma  lua cheia a dar o seu brilho num horizonte que se espelhava  nas águas  tranquilas do rio,  mas o   meu coração estava mais pesado com a  amizade do M. Nogueira Borges,  um amigo Eterno.

José Alfredo Almeida

Sem comentários:

Enviar um comentário