Foto: Artur Pastor |
Douro, meu belo país do
vinho e do suor,.....
António
Cabral
Pés
descalços pisam xistos-brasas. Concertina endomingada marca passos exaustos.
Corpos curvados, de novos-velhos. Setenta quilos de uvas maduras em cestos de
onde começam a soltar-se aromas líquidos com pressa de chegar ao destino. Eles
as carregam, eles as pisarão, depois da ceia
esmifrada com sabor a vinho de
refugo.
O Douro corre indisciplinado entre geios e
curvas de estradas, percorridas a pé, de longes-pertos, pelas rogas de homens,
mulheres e crianças.
Homens robots. Missões definidas com
precisão matemática. Cheiram a suor e a
mosto. No dia seguinte, acordarão com a mesma roupa em cardenhos onde palha é
cama.
Depois de terem erguido os socalcos,
transportam-lhes e pisam-lhes as
colheitas. Hércules humanos. Forças desmedidas. Orgulho macho. Como escreve
Jaime Cortesão, E foi assim que o Douro
se tornou a melhor vinha e o melhor vergel de Portugal; que os homens roubaram
aos deuses, para oferecer aos mortais de todo o mundo, a ambrósia divina; e uma
raça de gigantes ergueu o mais belo e doloroso monumento ao trabalho do povo
português. Esses foram e são os Lusíadas sem Camões. - in CANÇÃO DO MAIS ALTO RIO Antologia Literária do Douro
15 de Setembro de 2015
M.
Hercília Agarez
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