sábado, 1 de agosto de 2015

Querido Agosto

Foto: josé alfredo almeida 



É no abraço longo onde os dois corpos se fundem, que todas as manhãs ao acordar,
paro o meu olhar.

O Tejo e o Mar.

O mar.
Que eu vi pela primeira vez, nas férias grandes.
Foi na praia da Parede, na Costa do Estoril.

Eram perto das oito horas da manhã de um dia de Agosto pleno de luz, a prometer um calor intenso.
O areal branco, mar e céu, tudo azul como se fossem um só.

Tinha imaginado tudo diferente.
Senti a falta dos montes e das casas ao longe, da mansidão do Rio Douro a correr reluzente nas manhãs de verão.
Um certo desamparo em tão grande extensão.
Mas como é próprio do ser criança, adaptei-me rapidamente.
Aos grandes guarda-sóis multicor, aos banhos de espuma, a aprender a nadar.
Aos gelados, às bolas de berlim

Quando as férias na praia acabavam, confesso que sentia um certo alívio, não por não ter gostado das férias, longe disso, ao fim de pouco tempo já brincava com outras crianças, a jogar à bola ou a lançar o disco., Laços de amizade que perduram até hoje.
Apenas por temperamento, por não gostar de me afastar de tudo o que me era familiar.
Era a altura de inventar histórias fantásticas sobre a minha aventura estival para os amigos que não puderam ir de férias para a praia.

Regressava sempre carregada de conchas do mar.
Sentava-me por vezes, a um canto de olhos fechados, a ouvir o rumor do mar.
Sentia os cheiros. Os ruídos característicos do ambiente de praia, o sabor misturado de açúcar e sal.

Depois olhava o rio, cintilante, majestoso, dourado,

e pensava que não havia nada mais belo.

Hoje vivo em frente à foz.
Tal como o rio e o mar,
como se fosse um destino.


Ana de Melo

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