sexta-feira, 1 de julho de 2016

Caldas de Moledo, a memória de um espaço de lazer e turismo termal




Foi nos bordados requintados da bainha do lençol do Douro que D. Antónia, mais conhecida por Ferreirinha, mandou construir um Palácio para acolher o Rei D. Luís, um Grande Hotel e as termas, à sombra de um majestoso parque de plátanos que ladeiam o rio Douro como amigos inseparáveis.
As Caldas emergiam, das margens do rio, com palacetes dignos de um verdadeiro conto de fadas. Chamavam-lhe a “Pérola do Douro”. A verdade é que, desde o berço até à Foz, não existia uma instância de lazer tão acolhedora como esta “Pátria Pequena”. O Grande Hotel abria as portas triunfais dos grandes salões, recheados de luxo, deliciados pelas orquestras nos bailes de Verão.
Hoje, grande parte do património está em avançado estado de degradação. Os edifícios estão lá, a lutar nas suas frágeis estruturas rendadas pela osteoporose crónica e sem tratamento à vista. No entanto, ainda determinado a oferecer os sonhos e recordações das imponentes fachadas de uma riqueza que se desmoronou.
Lembremo-nos de Ramalho Ortigão, (1836-1915) que dedicou parte da sua vida à causa patrimonial. Consta no ciclo dos pioneiros patrimonialistas, cuja obra O culto da Arte em Portugal ilustra a constante preocupação com a protecção e salvaguarda de obras, testemunhos do passado com história e glória portuguesa.
Ensinados pela sensibilidade das nossas origens, também reconhecemos a necessidade da salvaguarda.
O culto da Arte em Portugal insiste no enaltecimento nacionalista tomando como pano de fundo os acontecimentos internacionais a fim de dinamizar a protecção nacional, suas riquezas históricas e artísticas. Na obra faz um levantamento exaustivo do património paralelo à necessidade de mudança de mentalidade - Educar para despertar o orgulho do passado português bem como suas técnicas que vão sobrevivendo nos seios mais regionais.
O perigo da demora ou de atitude pouco assertiva não ameaça só os monumentos, mas também a tradição que, sobrevive condenada à perda da sua essência. Também as Jóias das Caldas se encontram mergulhadas, a marinar, no ácido do desleixo e da demora. Por tudo o que se vai perdendo, a nossa cultura, vai ficando oca de conteúdo, deixando-a sem história, sem coração, sem identificação, sem geografia, sem suporte para o futuro.
O alerta foi lançado faz muitos anos. Cabe-nos a tarefa de avivar memórias às instituições dedicadas a esta causa que, certamente lhe vão dar continuidade em prole d`O Culto da Arte.

Lurdes Gomes

Sem comentários:

Enviar um comentário